Houve um tempo em que Bruno (voz), Cris (pandeiro), Sérgio (violão), Fred (surdo) e Vinícius (teclado) eram a sensação das festas e churrascos dos amigos no Grajaú, Zona Norte do Rio. E em bairro pequeno, o boca-a-boca é infalível. Dos playgrounds dos prédios das cercanias do Largo do Verdun para os restaurantes e bares da Grande Tijuca e da Barra foi um pulo. O cachê era negociável: dinheiro, pizzas ou até porções de batata-frita. Mas dez anos depois, esses shows tão informais ficaram definitivamente para trás. Com o CD e o DVD ?É diferente ao vivo?, que celebram uma década de sucessos, o Sorriso Maroto escreve definitivamente seu nome ? e em letras garrafais ? na bem freqüentada lista de quem conhece, entende e faz samba do bom.

Gravado no dia 31 de agosto deste ano no Citibank Hall, no Rio de Janeiro, o show tem o que músicos e fãs querem: maturidade artística, mas sem a perda da espontaneidade e da vibração típicas de quem está só começando a carreira e ainda tem um longo caminho pela frente. Dirigido por Joana Mazzucchelli, o segundo DVD da carreira da banda reúne 23 faixas, entre sucessos e inéditas. A inovação está no CD, produzido por Bruno, Sérgio e Lelê: ao contrário da maioria dos artistas, que tornam muitas canções exclusivas para o vídeo, o Sorriso sai na frente e faz justamente o contrário, apresentando um álbum duplo com 27 músicas, 15 delas inéditas. Samba, ao vivo, em dose dupla? Não há como duvidar: eles são mesmo diferentes. ?Éramos cinco malucos e hoje temos nove mil pessoas para ver a gente?, espanta-se Bruno. A verdade é que o romantismo das canções do Sorriso Maroto, com temas que vão de paixões secretas a relacionamentos complicados, acabou fazendo do grupo uma espécie de porta-voz da juventude. Mas em ritmo de samba.

O show abre com o ?Tema diferente?, composto por Jota Moraes. A segunda faixa, ?O que tinha que dar?, já dá uma mostra do que vem pela frente: com direito ao luxuoso reforço de um violino, Bruno canta o drama de um relacionamento terminado. Mas não perde a ternura, como em ?Primeira namorada?, uma das canções inéditas do CD e DVD, e ?Fica combinado assim?: ?Então fica combinado assim, é coisa minha, é nada com você/ O nosso amor foi tão legal pra mim/ Não fica triste, tenta me entender?. Assim, com jeitinho, quem é que não aceita o fim?

É diferente?, sucesso do álbum anterior de mesmo nome, vem na seqüência para levantar a galera. E disso o Sorriso Maroto entende. Do refrão empolgante e do naipe de metais de ?Tarde demais? ao medley em que Cris e Fred se destacam (?Beijo doce/ Maçã do amor/ Sabor morango?), passando pela animação de ?Se entrega? e pelo sambinha-axé de ?Topo do mundo?, sucesso na voz de Daniela Mercury, o grupo prova que falar de amor com gingado e suingue é completamente possível ? e por que não?

Mas é nas canções mais românticas, como ?O que é, o que é?, e na melodia pop de ?Faz assim? ? composta por ninguém menos que Márcio Greyck e seu filho, Bruno Miguel ? que se percebe a evolução do Sorriso como banda. Em ?Não tem perdão?, a primeira música de trabalho do álbum, Vinícius faz do som de seu teclado a base para o encontro de Bruno com a platéia. Afiadíssimos, o vocalista e Sérgio têm seu momento a sós com os fãs em ?Coração deserto/ Me espera?. Os mesmos fãs que não hesitam ao liderar o coro em ?Tenho medo? e soltar a voz na hora de ?Em suas mãos?, composta por Bruno e Sérgio e também um sucesso do CD anterior do grupo.



Uma das marcas registradas do Sorriso Maroto, a regravação de um hit do pop rock nacional era obrigatória. Afinal, depois de estourar nas paradas com ?Por você?, do Barão Vermelho, o grupo lançou tendência no mundo do samba. Em ?É diferente ao vivo?, a canção eleita foi ?Nada por mim?, sucesso na voz de Paula Toller, com o Kid Abelha, nos anos 80.

Ao contrário do que muitos poderiam pensar, tamborim, surdo e pandeiro só acrescentam um toque moderno à canção, cujo romantismo permanece intacto. E para fechar o CD e o DVD, que ainda traz um making-of do show nos extras, ?Futuro prometido?, composição de Tatau, ex-Araketu, não poderia ficar de fora. ?Tentamos resgatar a identidade do Sorriso?, diz Bruno. Podem ficar tranqüilos, rapazes: vocês conseguiram.